Nos bastidores aquece-se a voz
buscando o tom certo para a prestação em vista
e os nervos crescem no suor frio
sentido nas mãos, que já não obedecem.
A plateia em frente murmura em silêncio
esperando que o pano suba logo após
as pancadas secas que anunciam,
próximo, o começo.
A banda sonora arranca em crescendo
e as luzes todas acendem o palco
escondendo o medo que o artista vence
com palavras ditas em estudadas poses.
Palmas libertam os fantasmas
que (...)
Mas hoje nem riso, nem pranto
Que o dia é dia de Sol
Viver mais um dia, que espanto!
Sou feliz! No milheiral, girassol.
Excerto do poema “Não trago comigo não”, de Natália Nuno
De olhos no sol invento o futuro
que de longe me chama com sua voz mansa
e de quanto passou, luminoso ou escuro,
já só tenho a saudade, só me resta a lembrança!
Queria, ah como eu queria tanto,
ser pardal, andorinha, estorninho ou rola
para voar e (...)
Tenho-te no pranto
dos meus olhos-mar,
na solidão serena
das minhas mãos-âncora,
na luz rebelde, quente,
dos meus olhos-sol,
na loucura toda
do meu corpo-chão
e o quase nada que sei
de ti
aprendi nos trilhos amargos
dos dias breves,
na insolência repetida
das questões por responder,
no refúgio escancarado
das palavras que semeio,
a tentar, a repetir, a insistir
na sementeira do amor.
E o que não conseguir
deixarei ainda
no rasto indelével dos meus (...)