A vagarosa luz
penetra a sombra
fecundando a penumbra
macilenta
a gélida chuva
irrompe intrépida
violando o silêncio
da terra prostrada
o vento suão
esventra as casas
aferrolhadas
e submete o espaço
a noite alastra
dominadora
acicatando os medos
que escravizam
o mar investe
marulhando
no areal exposto
em poisio
De olhos em riste
aponto algures
um ponto improvável
onde se cruzam
Bato às portas e pergunto:
até quando?
E o grito que ecoa nos cantos
diz-me de volta:
não sei!
Vou pela ruas, triste e andrajoso,
e pergunto a quem passa:
até quando?
E em coro respondem:
não sei!
Olho ao redor e enfrentando o horizonte,
questiono o silêncio
e a sombra calada,
que, sempre seguindo os passos que dou,
jamais me responde.
E a pergunta rotunda,
prenhe e repetida,
ancorada nas praças,
lançada nas ruas,
esvoaça pairando sobre as (...)
Chamam-me os luares, as ventanias,
O coachar das rãs, o chiar das noras,
O canto dos ranchos na faina dos dias,
O repicar dos sinos ao cair das horas.
Chamam-me o odor a feno e a trigo loiro,
O frescor das águas alagando as hortas,
O vivo das papoilas e o verde dos prados,
Das memórias vivas de tantas vidas mortas.
Chamam-me os silêncios ao redor do fogo
- que a lareira acesa a todos congregava -
As histórias simples com nacos de gente
Em palavras nuas de tanto e de nada.
Chamam-m (...)
Há no ar uma magia desconcertante e a luz tem o sabor impregnado das amoras silvestres, como se fora lua cheia e os pirilampos ziguezagueassem ao encontro do sonho nos penhascos da via-láctea. Sinto-me cheio da vontade de ir na direcção do acaso a colher marmequeres campestres e papoilas rubras de desejo ouvindo o coachar de rãs preguiçosas ou o zumbido de abelhas ladinas no silêncio de (...)