do alto da minha janela aberta à noite, ao luar e ao longe vejo o que vejo e o que almejo. as casas caladas, que ficam do outro lado da rua, os carros, que correm atrás dos sonhos dos condutores acelerados, as árvores, nuas de ninhos e prenhes de pássaros imberbes, os cães vadios rosnando a fome junto aos caixotes do lixo, os gatos no cio miando desejos, com olhos de (...)
Apetecem-me beijos macios Copos de água fresca Romãs acabadas de apanhar Uma chuvada em pleno verão E um sopro de ar que sacuda a poeira Dos dias inquietos. Apetece-me uma brisa de maré cheia, Um voo de andorinha que poisa no beiral Da casa de todos os meus sonhos, Um som distante que me lembre um rancho De gente dobrada sobre a terra A apanhar figos ou azeitonas, Uma gargalhada lisa com botões No cós da alegria. Apetece-me a noite prenhe de luar E uma coruja (...)
Sonhador (imagem obtida no Google) De quando em vez remo Contra a aragem sangrenta dos tempos Tomando asas de condor A rasgar o horizonte e a esculpir Estátuas hermafroditas No centro rochoso das praças nuas. Libo os néctares das estepes Que se erguem na orla das imagens Peregrinas que navegam as dores insolentes No limbo da amálgama dos dias Entre a embriaguez e a demência Matizada dos canteiros de açucenas. Disfarço as rugas e as mazelas maquilhando De sorrisos a raiva e (...)
Tela de "Frank Lloyd Wright's" (imagem obtida na net) Pesquisei onde suspeitei que estarias E até nos lugares onde nunca foste, Como se encontrar-te fosse uma promessa! Nos filamentos do meu orgulho E nas saliências do meu abandono Inscrevi o teu nome a ferro e fogo… Perguntei por ti a quem passava, Afixei anúncios em letra desenhada, Gritei nas ruas, sob cada arcada… Inquiri o vento pelas madrugadas, Com voz furiosa castiguei o silêncio E até às nuvens mandei recado! Ansiei que chegasses ao nascer d’alva
As asas que eu tive, perdi, morri nelas e por elas desci aos infernos, subi às estrelas, cresci por tê-las, senti-las, vivê-las, e por fim perdê-las! Que é feito delas? Eram tão belas, as asas que me içavam até ao infinito?! by PC, em 17.Set.2010, pelas 16h00
Escondo o medo no bolso da camisa Junto ao coração E ao deitar-me Deixo-o pendurado no espaldar da cadeira Para poder vigiá-lo de perto! Mas adormeço refém do cansaço E o medo vem sem aviso E invade o meu sono solto No tropel de um pesadelo medonho Que me acorda para a noite… De olhos semi-abertos, estremunhado Olho o céu estrelado de que me esquecera E com os olhos marejados Sento (...)
(Imagem obtida na internet) Tornar-se o sonho! O próprio sonho vir a ser... Mais que fisico, carne ou pedra, ser chama, Labirinto de sentimentos e aventura, Lastro de mar em marés mais vivas que a dor, Mais funestas que a morte; Queda livre no infinito De onde só a palavra será capaz de ressuscitar A (...)
Navego à descoberta
do labirinto
na cratera do sonho
e cada pedra traz o espanto
e a vontade
de ir mais adiante
até aos confins da realidade
palavras e ecos
unem-se no mural da ousadia
a desenhar o perfil
dos caminhos e a estrada
dos ventos
que entroncam na memória
vagas e estrelas
enxameiam o meu espaço
transformando a terra em mar
e o céu em desafio
ainda que o olhar esmoreça
e a esperança quebre
os algozes das trevas
não morreram na derrota
d (...)
Quem me achar
Perdido no mar das angústias
Dos meus dias sonolentos
Não se amedronte com o meu desapego
Ou a minha covardia,
Nem valorize a minha vaidade
Ou a minha impaciência.
Sou assim tal e qual
Estranho a mim mesmo
Medroso dos meus medos
Infantis
E destemido da minha razão
Incongruente
Fácil de palavras
Que devoro na modorra do silêncio
Baço e unívoco
Avesso à estridência da visibilidade
Que inflama sem sustentação
Para abandonar sem dó.
Sigo uma (...)