Vagaroso arrasto o tempo
Para o cadafalso
Dos sem perdão ou misericórdia.
Espero apenas o teu sorriso breve
Ou o teu adeus envergonhado
Lançado num gesto de mão
Abandonada
Que cortará o ar suave
Do horizonte sem nuvens.
Sigo em passos automáticos
Que me levam adiante
Ao estrado dos condenados.
Vou livre de todo o peso
Da vida
Cismando os momentos
Que entreguei à paixão
Como se quisesse apossar-me
Da eternidade.
Resta-me o tempo breve
Do último desejo...
E (...)
Violácea memória
fermento de sorrisos...
Quando os olhos buscam
no plasma celeste
a vagarosa melopeia
duma canção de ninar
é tempo de maré vasa
para os lados da lua nova...
Vagalumes cirandam
de cá para lá no frenesim
da inocência...
e um tostão nasce
na travessura dum sonho
tornado real!
Regressaremos ainda
à ternura dum serão
pleno de castelos e castelãs,
de duendes e lobisomens,
de encantos e encantamentos,
ou morreremos virgens
Nas lodosas manhãs
Acordo da clausura
Da diáspora
E lanço âncora
Ao rés da maré vasa,
Quando a lua se despede
Com um beijo
E o sol se ergue
Majestoso
Nos escaparates do oriente.
Vagueio entre mudo e nu
Ao encontro das palavras
Estremunhadas e famintas
E descubro na água corrente
Temperada do duche matinal
As fragrâncias aferrolhadas
Dos campos que já não são,
Dos tempos que já foram,
Da vida que passou por aqui
E deixou marcas e marcos
Que dividem em talhões
E parcelas
(...)