Framboesa magenta
azul e lilás
voragem cinzenta
num voo fugaz
acorda-se o dia
na aurora fulgente
escondendo a fria
noite pungente
cresce sibilino
alcandorando-se altivo
como arrogante inquilino
do celeste cativo
derrama sem lei
o que a lei não domina
portentoso rei
que tudo ilumina
e por milénios quedo
mas avesso à clausura
percorre em segredo
o dia todo e a noite escura
e quando o (...)
Bato às portas e pergunto:
até quando?
E o grito que ecoa nos cantos
diz-me de volta:
não sei!
Vou pela ruas, triste e andrajoso,
e pergunto a quem passa:
até quando?
E em coro respondem:
não sei!
Olho ao redor e enfrentando o horizonte,
questiono o silêncio
e a sombra calada,
que, sempre seguindo os passos que dou,
jamais me responde.
E a pergunta rotunda,
prenhe e repetida,
ancorada nas praças,
lançada nas ruas,
esvoaça pairando sobre as (...)
Telúrica a vontade
crispa-se na rudeza das horas
e adormece ante o indício
da espera.
Os abismos da dor
entrelaçam a esperança
num abraço singular
mortífero.
Paira nas ressonâncias
do sonho-pensamento-ideia
a incerteza do amanhã,
desenhado agora
como esquisso ou aventesma.
Maremotos de raiva
alagam as cercanias
da consciência naufraga
e cavalgando o Adamastor
do sombrio horizonte
o ponto cardeal, que é destino,
perde-se na bruma
amante de sereias (...)
Quando me apetece sonhar
Sento-me no chão
Para sentir pulsar a terra
E adivinho o fervilhar dos formigueiros
Na azáfama de garantir o futuro.
Levanto voo nas asas duma rola brava
E poiso saltitando com um pardal inquieto
Numa roseira brava da beira do caminho.
Ensaio a medida da distância que vai
Do meu lugar ao ponto mais distante
Do horizonte
E preencho o tempo lançando beijos
A todos os insectos que passam por mim
Indiferentes ao meu desvario.
As plantas ao redor nascem, (...)