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No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

25.02.12

Apetites


     Apetecem-me beijos macios Copos de água fresca Romãs acabadas de apanhar Uma chuvada em pleno verão E um sopro de ar que sacuda a poeira Dos dias inquietos.   Apetece-me uma brisa de maré cheia, Um voo de andorinha que poisa no beiral Da casa de todos os meus sonhos, Um som distante que me lembre um rancho De gente dobrada sobre a terra A apanhar figos ou azeitonas, Uma gargalhada lisa com botões No cós da alegria.   Apetece-me a noite prenhe de luar E uma coruja (...)
03.12.10

Po.Ética - Segundo


  Que sensações sentirão as andorinhas Quando voam rasando a terra em acrobacias de risco e vertigem?   Que sentirão as gaivotas quando caiem ferozes Sobre a presa e tocam as ondas em giros de carrossel?   Que prazer, que odor, que gozo subirá da terra Quando uma ave qualquer abre as asas E se espraia pairando nas alturas, Admirando os rios, os bosques, os caminhos E os seres superiores que caminham nos seus passinhos À procura do futuro?   Há-de ser fabulosa a excitação De (...)
25.04.10

...Terra da fraternidade...


  “…Terra da fraternidade, O Povo é quem mais ordena, Dentro de ti, oh cidade…”   --------------------------------------------   Ainda os gestos Ainda as gargantas e o grito Ainda os sonhos e a certeza Ainda a terra, o pão, a justiça Ainda os olhos rasos de água Ainda a alegria   Ainda as estrofes do hino que ficou Que ficará Ainda a convulsão e o desassombro Que nos empurra Ainda a maré cheia de gente Num chão de luta Ainda o futuro tão longe E o (...)
06.03.10

A morte dos pássaros


  Sabes porque morrem os pássaros?   Porque na orla dos rios os nenúfares recusam espelhar-se nas águas correntes e os chorões se desnudam de sombra no pico da primavera quando o sol se apaixona pela paleta de cores dos campos verdes onde cresce o malmequer, a papoila e o azevém.   Morrem de tristeza pendurados no cimo de campanários calados na vã espera dum trinado que lhes aqueça a alma e os acorde para os dias claros do tempo do (...)
24.11.09

Vagarosa tarde


  Vagarosa tarde, quase noite, porque vieste agora acordar os meus olhos vazios para a luz preguiçosa?   Diabólica noite de passos segredados, que trazes, à solta, nos cabelos de sombras ou nos pingos inquietos dum beiral incómodo?   Sonolenta aragem fria, impiedosa invasora das frinchas das casas sem vivalma, porque devassas a minha pele tisnada do sol que foi?   Derradeira esquina, que tropeças na avenida larga, onde os candeeiros jorram o caudaloso (...)
28.07.09

PROMONTÓRIO DO SONHO (com vista para a realidade)


  Debruço-me... vejo longe o marulhar das ondas!   Inspiro... sinto fundo o sabor da aragem!   Sento-me... abraço o rumor do pinheiral, as urzes!   E, de coração inundado de paz e olhar escancarado ao silêncio que brota do chão areento, adormeço a velar as lagartixas inquietas, que o sol seduz, e as formigas audazes, no frenesim do verão cálido.   Deixo que, na perpendicular, o sol se espraie, preguiçoso, no meu corpo absorto e morro, sorrindo, na (...)
01.07.09

Qual liberdade?


  Quando me apetece sonhar Sento-me no chão Para sentir pulsar a terra E adivinho o fervilhar dos formigueiros Na azáfama de garantir o futuro.   Levanto voo nas asas duma rola brava E poiso saltitando com um pardal inquieto Numa roseira brava da beira do caminho. Ensaio a medida da distância que vai Do meu lugar ao ponto mais distante Do horizonte E preencho o tempo lançando beijos A todos os insectos que passam por mim Indiferentes ao meu desvario.   As plantas ao redor nascem, (...)
27.06.09

Palavras paridas


  Ponho nas palavras Asas de gavião ou albatroz E lanço-as, desnudas, Ao encontro das ruas apinhadas, Como se fossem plumas.   Por vezes escorrem dos dedos, Como o suor no corpo em esforço, E caiem desamparadas No lajedo das praças, Aos pés das estátuas.   Momentos há em que recusam Sair do seu torpor de palavras E fincam amarras e cadeias Que só a inspiração dum momento, Como um clique, É capaz de rebentar.   Mas, sempre que as palavras Se soltam e libertas vão Por aí (...)
05.06.09

Voo suave


  Voo suave… Interlúdio de memória e sonho, Desabafo que alastra na clareira Dum passado vagaroso, Passos que marcam indeléveis Esboços de futuro, Sonoras gargalhadas que rasgam Barreiras de medo E libertam fantasmas sem nome E sem aura.   Dormente o olhar vagueia Em busca da outra margem Como se construísse a ponte que falta Para o beijo ou o abraço.   O que vem depois é a parte Que resta da sincopada cadência Da teimosa vontade de ir longe, Ainda que o tempo se esgote (...)
19.05.09

Porque não a loucura?


  Se no teu corpo pressentires silêncio E na tua alma saudade Despe-te de preconceitos e ama As pedras da calçada Os lírios do campo E os pingos da chuva…   E se o vento passar por ti envolve-o Num abraço sem tamanho Até que sintas que ele se rende E fica contigo a ensaiar Um hino de paixão e loucura!   Se fores capaz beija-o! Se te apetecer adormece no seu colo E quando o sol despertar espreguiça-te e Voa…   Que pássaro será capaz de um voo assim?     by (...)