Apetites
Apetecem-me beijos macios
Copos de água fresca
Romãs acabadas de apanhar
Uma chuvada em pleno verão
E um sopro de ar que sacuda a poeira
Dos dias inquietos.
Apetece-me uma brisa de maré cheia,
Um voo de andorinha que poisa no beiral
Da casa de todos os meus sonhos,
Um som distante que me lembre um rancho
De gente dobrada sobre a terra
A apanhar figos ou azeitonas,
Uma gargalhada lisa com botões
No cós da alegria.
Apetece-me a noite prenhe de luar
E uma coruja agoirenta sobre a empena duma casa
Abandonada e triste,
A riscar de excomunhões todos os pensamentos
E todos as memórias.
Apetece-me um prado verde
Pejado de paloilas e malmequeres
E uma luz silenciosa que me faça adormecer
À sombra de uma fruteira qualquer,
Enquanto a tarde se abeira da noite
E a sesta se faz naturalmente fagueira.
Apetece-me ser livre
Como se fora pássaro ou folha seca
E uma corrente de ar quente me suportasse no vazio
De ser ave ou folha seca
Sem pensar em nada mais.
Em 24.fev.2012, pelas 16h45
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