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No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

25.02.12

Apetites


  


 

Apetecem-me beijos macios

Copos de água fresca

Romãs acabadas de apanhar

Uma chuvada em pleno verão

E um sopro de ar que sacuda a poeira

Dos dias inquietos.

 

Apetece-me uma brisa de maré cheia,

Um voo de andorinha que poisa no beiral

Da casa de todos os meus sonhos,

Um som distante que me lembre um rancho

De gente dobrada sobre a terra

A apanhar figos ou azeitonas,

Uma gargalhada lisa com botões

No cós da alegria.

 

Apetece-me a noite prenhe de luar

E uma coruja agoirenta sobre a empena duma casa

Abandonada e triste,

A riscar de excomunhões todos os pensamentos

E todos as memórias.

 

Apetece-me um prado verde

Pejado de paloilas e malmequeres

E uma luz silenciosa que me faça adormecer

À sombra de uma fruteira qualquer,

Enquanto a tarde se abeira da noite

E a sesta se faz naturalmente fagueira.

 

Apetece-me ser livre

Como se fora pássaro ou folha seca

E uma corrente de ar quente me suportasse no vazio

De ser ave ou folha seca

Sem pensar em nada mais.

 

Em 24.fev.2012, pelas 16h45

Imagem: Google

 

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