Homem e poeta
Sonhador (imagem obtida no Google)
De quando em vez remo
Contra a aragem sangrenta dos tempos
Tomando asas de condor
A rasgar o horizonte e a esculpir
Estátuas hermafroditas
No centro rochoso das praças nuas.
Libo os néctares das estepes
Que se erguem na orla das imagens
Peregrinas que navegam as dores insolentes
No limbo da amálgama dos dias
Entre a embriaguez e a demência
Matizada dos canteiros de açucenas.
Disfarço as rugas e as mazelas maquilhando
De sorrisos a raiva e a revolta
Enquanto nos mastros dos teatros drapejam
Bandeiras esfarrapadas e sinistras
Que anunciam tréguas, como farrapos brancos
De rendição e despojamento.
No chão esquálido a minha sombra irreverente
Mima cada movimento que faço
Reproduzindo os volteios com que preencho
As arestas de todos os silêncios selvagens
E adorno de carinhos a aridez de todas as texturas
E as cores de todos os alvores inesgotáveis.
Já não me lembro de como se faz adeus
A um barco que levanta ferro dum cais vazio
De beijos e inundado de abraços e lágrimas!
Já não me apetece fingir com palavras de filigrana
As ondas de desejo e vacuidade que incendeiam
As largas avenidas e as estreitas vielas de inquietude.
Se sonhar for alternativa,
Deixem que me enrosque em posição fetal
E, divagando no líquido amniótico da minha loucura,
Atinja a gruta sofrida do meu emergir renovado:
- Homem apenas homem…
Poeta, o quanto baste ser poeta!
Em 21.jun.2011, pelas 00h30
PC