Versejando - XXVII
Desisti de ser o balão
Que sobe no ar
Soprado pelo furor dum vento agreste
Que me sacode e me viola
Até à alma!
Desisti de ser a sombra
Que se arrasta pelo chão
Submissa como o mais dócil cão,
Sem latir e sem rosnar,
Inútil na ponta duma trela!
Desisti de ser a voz que acalma
O grito de quem ergue
A razão e o desassombro
Em palavras escavadas à força
Na turbulência do desassossego!
Desisti de ser
Outro que não eu mesmo!
E quando me perguntarem quem sou
Arremessarei o silêncio
Que estrondeará mil imagens
E outras tantas sílabas paridas
Nos destroços duma eugenia mórbida
Sob um manto de estrelas nuas
Que salpicam de luzeiros
As pútridas noites da criação!
Serei apenas arrátel
Ou quem sabe ínfima partícula
Que se acolhe na oblíqua pertença
Do indómito crer-se por si
Imortal ou… eterna!
Em 28.Nov.2010, pelas 23h45
PC