Perdidamente perdida
Mas hoje nem riso, nem pranto
Que o dia é dia de Sol
Viver mais um dia, que espanto!
Sou feliz! No milheiral, girassol.
Excerto do poema “Não trago comigo não”, de Natália Nuno
De olhos no sol invento o futuro
que de longe me chama com sua voz mansa
e de quanto passou, luminoso ou escuro,
já só tenho a saudade, só me resta a lembrança!
Queria, ah como eu queria tanto,
ser pardal, andorinha, estorninho ou rola
para voar e voar, e não temer parecer tola...
Mas hoje, agora, nem riso, nem pranto!
Vou teimosamente e em contradição
afirmando ser o que nego ser,
sabendo que sou assim, ou talvez não,
destemida no medo de me achar ou perder.
Saio para o mundo e grito calada
em palavras sedentas, que são isco e anzol,
e tudo o que grito é tanto e quase nada...
Que este dia de hoje é dia de Sol!
Continuo viva desta vida que faz
mais curto o tempo que ainda me resta
mas, por ser assim dual, sou incapaz
de negar a saudade e recusar a festa!
Já quase descreio da fé que acalento
e tomo o silêncio, denso, como manto,
a desejar o rumor que é meu alimento...
Para viver mais um dia, que espanto!
Ser poeta é ser assim? É ser doutro modo?
É sentir a dor que ainda não chegou
pressentindo a parte e vivendo o todo?
Ou será esquecer tudo o que passou
para morrer na clausura do próprio ego
inventando a ternura e a paz, como farol,
que lançamos ao mundo de modo cego?
Sou feliz! No milheiral sou girassol.
by Paulo César, em 02.Nov.2009, pelas 18h45
Para a Natália, com amizade e carinho.