Cante
Monumento ao "Cante Alentejano", em Cuba (Imagem obtida na net)
As vozes soam guturais
Tresandam terra e suor
Alevantam o pó das leivas
E marcam, pela dolência inquieta
Do ritmo, a melodia forjada
Na força de braços.
Trazem no âmago a memória,
Que reforça o lastro com o sol a pino,
Nos montes onde o gado se torna
Igual entre racionais
E a terra se assume mãe e madrasta
Da gente que desnuda, com mãos
Calejadas e cravejadas
De saber sábio,
O útero que dá pão e dores!
Unívocas são as gargantas que replicam
Os sons dos campos largos,
Inundam de preces os lugares sem fé
Em agudos vibrantes que doem
E em graves tumultuosos que desenham
Ferros em brasa que dissipam
As auroras
Para acordar os campos e regar
As searas estremunhadas!
Doces palavras pequeninas invadem
O silêncio até o tornar colorido
E luminoso…
E por dentro, até ao mais recôndito
De cada ser, acende-se um lume
Que é fogo e luz,
Carreiro e futuro!
E da comoção das lágrimas
É que nasce o orgulho
E a alegria
De sentir-se alentejano
(mesmo quando só se é português!).
Em 28.nov.2010
PC
Homenagem às sublimes vozes dos Grupos Corais Alentejanos, que me levam à comoção de cada vez que os escuto, como se fossem coros celestes.