Dores que o Natal carrega
Carrego as palavras
como anjos de algodão
desnudados da vergonha
ou da ingratidão
arrasto à força desejos
de paz e bem querer
como se todo o futuro
não fosse acontecer
repito sem cessar
este grito de revolta
por tudo quanto doi
e anda por aí à solta
afago o olhar mortiço
dos putos da rua toda
é que neles perdeu o viço
a festa, o riso, a boda!
e evito a voz amarga
dum velho da beira rua
que se crava como adaga
em mim, sonhador da lua!
e o meu riso é minha dor
e a minha dor um punhal
que se afunda com fragor
nesta quadra de Natal!
que entre luzes e filhós
da familia que se irmana
há tantos e tantos, tão sós,
na sua condição infra-humana!
oh presépio do amor,
oh cabana simples de luz
onde estás tu, oh Senhor?
onde mora teu espírito, Jesus?
seguem as horas e os dias
noites frias, chuva e neve,
e depois das alegrias
que sobrará que nos leve
a buscar outro caminho
que nos faça ser capazes
de dar alma ao coração
destes tempos tão vorazes?
Neste tempo, nesta época, nesta quadra, onde o peso dos sem peso sopesa e muito nas nossas atitudes, talvez valesse a pena tomar um caminho novo, que não passa por seu outro, mas passa por ser diferente.
Diferente perante si mesmo, perante os outros, perante a sociedade e perante a vida!
Diferente, para melhor, tendo presente que a mudança terá que ser radical e definitiva!
Talvez assim possamos festejar o próximo Natal sem a obrigação de ser Bom!
FESTAS FELIZES A TODOS OS QUE SENTEM QUE VALE A PENA APOSTAR NUM NATAL DIFERENTE!