Para aqueles que são a razão de estar aqui!
Não vos sinto as dores,
nem vos oiço os queixumes,
nem conheço os vossos sonhos adiados,
nem sei dos vossos medos,
nem adivinho a grandeza das vossas solidões,
nem pressinto o fervor da vossa fé,
ou a grandeza dos vossos projectos,
ou a temerária audácia dos vossos futuros
de gente de mãos calejadas,
de pernas doridas e prestes a ceder,
de corações quase extintos, abafados,
dos vossos olhares nublados,
dos vossos sorrisos macilentos.
Sei de vós quase sempre, apenas,
o comprimento da vida
medida em anos,
em imagens fantásticas
que nos mostram, como se quisessem
calar-vos, enclausurar-vos,
numa redoma de luares de Agosto!
E esses não sois vós,
os velhos que eu amo velhos,
que eu respeito velhos,
que eu, numa vénia de quem agradece,
quero velhos,
dessa velhice que ensina,
que encoraja,
que enaltece,
que gera respeito,
que apela à escuta
das palavras simples e sábias
em discursos mil vezes repetidos,
a pedir ouvintes.
Quero-vos, velhos,
assim mesmo, velhos de tempo,
velhos de alma e espírito,
velhos de muito passado,
que apela a muito futuro,
velhos de muita dor e tristeza,
que pedem muita alegria e entrega,
velhos de muitos filhos e netos,
que apontam mais família,
velhos de muita fome,
que exigem muita solidariedade,
velhos de muito trabalho,
que merecem o trono da vida,
velhos de um povo do mundo,
cujo direito supremo
consiste em ser ainda
velhos!
Quero-vos VELHOS!
Valentes homens e mulheres,
Extraordinários pais, mães e avós,
Lindos rostos cujas rugas venero,
Humanos gestos onde o sonho perdura,
Olhos terrenos dum Deus presente, em
Sábias palavras que de ouvir não canso!
Quero-vos VELHOS!
Para beber dos vossos lábios
a serenidade que explode
como bênção
dos silêncios que caem depois das palavras
enquanto buscais no baú das memórias
o saber que o tempo decantou
em arquivos onde sois os guardiões!
Quero-vos...
E porque assim o aprendi de vós
vou esculpir na pedra da vida,
a cinzel, para que não se perca
na voragem do tempo,
o louvor que as vossas cãs merecem:
Queridos velhos, velhos são os trapos!
by Paulo César, em 05.Out.2009, pelas 17h00