O ganho de perder-te é saber que não te perco, porque perder-te é perder a memória, é esquecer o passado, é enterrar o que fomos um dia, uma hora, um minuto, o que tenha sido, fugaz e louco, ou simplesmente indizível.
Perder-te significa perder-me, abalar de mim em busca de outro eu, outro ser, outro homem novo no velho que sou e tomar um rumo, um norte, um caminho impossível de cruzar-se comigo, este, e contigo, essa, que um dia se cruzou no ponto certo da vida onde ocorrem encontros impossíveis de esquecer.
Não quero choros, nem ais, nada mais quero de vós do que um sorriso rasgado e um olhar cintilante onde a alegria impere
quero ouvir as vossas vozes a contar mil coisas tontas daquelas que fizemos juntos quando a vida nos impelia à loucura de viver
quero sentir que vos amais no amor que nos uniu na vontade que cingiu nossos seres de gente boa em busca do sonho novo que sempre acanlentámos mesmo quando já não sonhámos e nos limitámos a ser sonhadores do tempo ido.
Não quero saber que vencidos vos destes ao abandono de adormecer e pelo sono não dar pelo tempo passar.
Quero-vos ainda e sempre meus amigos, a arrostar com os perigos e a vencer a modorra que um homem só o pode ser quando mantém a porfia e vai pela noite fria em busca do sol radioso que transforma a noite em dia.
Quando a morte vier que venha devagar, silenciosa, insinuante, na força duma bala, no gume duma faca, no nó duma corda, no estrondo de uma queda, numa sincope indolor, ou como quer que seja...
Quando a morte vier que eu esteja preparado para a receber e com ela beber um copo, trocar uma conversa amena, dançar uma valsa lenta ou um tango fugaz.
Quando a morte vier que seja dia, sol vivo e a pino, luz vibrante e envolvente, tempo de flores e muita água nos rios.
Que haja pardais no arvoredo e andorinhas nos beirados, gente apressada nas ruas e sons de música num rádio incansável donde brote alegria a rodos.
Quando a morte vier que eu saiba da vida tudo o que devesse saber e que nada nem ninguém chore a minha partida mesmo sem querer.
Quando a morte vier que venha bonita, cheirosa, requintada, sorridente, quiçá sexy...
Incerta a palavra escorre... Vertida no papel a tinta seca... A ideia povoa a mente e solta-se Libertina e indelével Para semear tertúlias Na imensidão...
E dita assim A palavra já não é minha É, por si mesma, Ideia e Matéria, Razão e Vontade, Princípio e Fim, Alpha e Ómega, Tudo e Nada, Natureza que intui E se transforma E transforma o que toca.
No branco alastra a vertigem E a soma de letras miudas Multiplica-se nas palavras Em que se dividem as ideias Que se subtraiem à sucapa Para um poema, outro, Que escrevo com o intento De lançar como grito Ou slogan.
As linhas tornam-se sinuosas... O espaço claustrofóbico... E fio condutor esvai-se... Por fim o braço pára E tanto ficou por escrever!
Mil olhos Vagueiam no mofo Do tempo desgastado Em busca do humus Do sonho Como se a Via Láctea Levasse ao Paraíso!
Na aspereza das horas Mortas Decomponho contrito Os fiapos de tempo Que nascem no âmago Das coisas que se moldam Entre mãos de feiticeiro E truques de mágica Sem mestre!
As estrelas cadentes Tingem de luz repentina E vertiginosa As estradas de Santiago!
No voo dos morcegos Deambulam os fantasmas Nocturnos Da alegoria Da vida!
Lamparinas de azeite, Já extintas, Atraiem as borboletas Do lusco-fusco, Em voos sem retorno!
Penso-me na abstracção Das palavras, Na irrazoabilidade Dos sentimentos, No mistério de ser Ainda e sempre!
by Paulo César, em 23.Dez.2005, às 04h45 (T. Towers)
Nos lábios sedentos Nasceu, à flor da água, Um nenúfar de folhas viçosas Com uma corola no centro... Batia um coração no teu olhar, Cálido e fulminante, A marcar o ritmo do tempo e o espaço, Na sincopada cadência Do desejo e da saudade.
Amei-te nos lençois Lavados da sofreguidão E adormecemos nos braços Do cansaço Com sonhos coloridos A crescer no aconchego Dos nossos corpos unidos!
Esta noite ouvi o teu corpo E ganhei asas! Asas de espanto No delírio do espasmo, Quando o coração parece Saltar do tórax E ir sem destino Gritar a quem passa: AMO-TE!
by Paulo César, em 01.Dez.2005, pelas 04h50 (T.Towers)