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No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

04.07.23

INUTILIDADES


Escorre pelas minhas mãos o líquido dos teus olhares vagarosos, as dores do tempo das tuas regras, o vazio das palavras que escreves em blocos de notas à espera que alguém as leia. Escorrem dos meus lábios beijos que não conheces, sorrisos que não identificas, gritos de silêncio que nunca ouvirás ainda que te afadigues na escuta. À noite, a liquidez coada das almas transformam os encontros em inutilidades e por cada gota de saliva que sorves da minha boca dá-se a osmose da (...)
07.06.23

LIMBO


Já não há tempo para te falar do sabor dos dias, nem para te carregar nos braços e te levar aos confins do silêncio, onde moram os anjos querubins, as fadas, os arlequins e de onde irradiam, acutilantes, os raios de sol ardentes. já não há tempo para te dizer num abraço a estreita infinitude das memórias que galgam os diques e alagam o horizonte das planuras onde me deito e medito, chispando a febre do desejo nunca alcançado. Delicado o meu olhar buscará o ponto de luz que (...)
05.06.23

COMO SE BARCO FOSSE


As palavras grito-as eu, como se barco fosse, e todas as marés são de feição. Nos antípodas, uma estrela cintila e à distância um rumor me chama. Não há rotas a cruzar as veredas onde me descrevo e me assumo e todos os pontos da abóboda celeste são marcas que deixei em cada poema, em cada proclamação, em cada silêncio. Barcos são andorinhas das águas e, os remos, asas que nunca souberam voar. Da serenidade do Olimpo desceu uma luz amena e Orfeu veio dançar à chuva uma (...)
03.01.23

DEI TUDO!


Em tudo o que faço, está tudo o que sou. Dei tudo! Tudo, até ao esgotamento. Nada guardei para mim, a não ser algumas memórias, um ou outro tempo sofrido, uma gargalhada feroz e alguns desatinos. Escrevi em papéis de ocasião todas as palavras que me consumiram e com elas escrevi livros que li, reli e voltaria a escrever. Uns quantos ousaram acompanhar-me na liça dos dias e subiram a meu lado ao trono dos devaneios para comigo comungarem da luz que me encharcou por breves períodos, at (...)
03.01.23

LEGADO


Deixo os prados, as lezírias, as charnecas, deixo os montados e os bosques, deixo as hortas francas e os jardins estarrecidos, deixo os caminhos de pedra e pó e os montes pederneira onde o sol chega primeiro e acende setas certeiras que são fios de luz. Deixo os rios, os lagos, os ribeiros, as fontes, os poços, deixo os olivais serenos e os figueirais inquietos, as tardes vacilantes de cansaço e as noites longas de inquietação; deixo "as armas e os barões assinalados", deixo a (...)
23.08.15

N A D A


  Meu sentimento é de nada! Nada... e nada acontece. E o nada, que o tudo traz, tira-lhe a esperança e a paz e em desespero fenece como lamparina sem luz, que a noite fria reduz a sombra negra, calada.   Meu sentimento é de nada! Nada mais, que tudo é nada!   Em 20.Ago.2015 PC  
02.01.14

Do alto da minha janela


  do alto da minha janela aberta à noite, ao luar e ao longe vejo o que vejo e o que almejo.   as casas caladas, que ficam do outro lado da rua, os carros, que correm atrás dos sonhos dos condutores acelerados, as árvores, nuas de ninhos e prenhes de pássaros imberbes, os cães vadios rosnando a fome junto aos caixotes do lixo, os gatos no cio miando desejos, com olhos de (...)
11.04.12

Procurando a paz


  Calcorreei todos os lugares onde me pareceu possivel encontrar-te. A todos com quem me cruzei perguntei pelo teu nome. Às núvens negras, prenhes dum aluvião de águas, indaguei por ti. Aos pássaros assustados da minha ousadia interroguei sem resultado. Olhando as pedras lisas de tanto serem pisadas tentei descobrir um sinal, em vão.   Era já noite e veio a lua cheia e na ansiedade de saber algo, questionei-a. Muda me olhou na sua cor mansa e nada me disse que me desse esperança. (...)
04.04.12

Fastio


  Já não me seduzem as purpurinas das vestes dos magos, A luz sedutora dos foguetes de lágrimas derramando-se, A sonoridade insidiosa das melodias insonsas e aveludadas, O odor agridoce das palavras esdruxulas rendadas nas franjas, Os sorrisos convenientes em lábios caiados de baton barato.   Não me incentivam as criaturas que se travestem de nababos, Rastejantes de efeitos coloridos nas carapaças resinosas, Batráquios esverdeados, anfíbios nascidos nos dejectos da perfídia, Ro (...)