As palavras grito-as eu, como se barco fosse, e todas as marés são de feição. Nos antípodas, uma estrela cintila e à distância um rumor me chama. Não há rotas a cruzar as veredas onde me descrevo e me assumo e todos os pontos da abóboda celeste são marcas que deixei em cada poema, em cada proclamação, em cada silêncio. Barcos são andorinhas das águas e, os remos, asas que nunca souberam voar. Da serenidade do Olimpo desceu uma luz amena e Orfeu veio dançar à chuva uma (...)
Sonhador (imagem obtida no Google) De quando em vez remo Contra a aragem sangrenta dos tempos Tomando asas de condor A rasgar o horizonte e a esculpir Estátuas hermafroditas No centro rochoso das praças nuas. Libo os néctares das estepes Que se erguem na orla das imagens Peregrinas que navegam as dores insolentes No limbo da amálgama dos dias Entre a embriaguez e a demência Matizada dos canteiros de açucenas. Disfarço as rugas e as mazelas maquilhando De sorrisos a raiva e (...)
quase sempre o pudor
outras tantas o medo
a submissa vontade
o constante degredo
dum lado o silêncio
do outro a magia
nos olhos perfume
nas mãos melodia
e palavras sem dono
a escorrer em cascata
até mesmo no sono
nascidas sem data
imagens sem cor
ciganas, vadias
a encher de odor
as margens dos dias
pedras de metal
madeiras de rocha
linhos de burel
luzeiros de tocha
avoengas dores
e tantas insónias
furtivos lavores
em colunas jónias
c (...)
Não me quero coibir
das palavras,
nem aventar as ideias
para o degredo...
Morre cedo
quem se entrega à clausura
do anonimato
de si mesmo!
Em 05.Fev.2010, pelas 09h15 - PC
Se todo o silêncio se quebrar
em pedaços miudos
indefinidos
incapazes de retomarem a forma
anterior...
É porque terá morrido um poeta
num lugar inóspito da Via Láctea,
à beira dum precipicio de sonhos
incontroláveis,
ao rés da maré cheia dum mar
sem nome,
no cume duma montanha
amante da lua nova,
num canto solitário e estridente,
onde as palavras sonoras
se espraiavam por si mesmas
em danças de rimas que não eram,
enquanto a noite inundava
as casas (...)
Construo com palavras
poemas de palavras,
só de palavras,
apenas de palavras...
E quando as palavras esgoto
busco mais palavras
para que com palavras faça
os poemas que as palavras acabam por dizer.
Tanta palavra dita,
tanta palavra escrita,
tanta ainda por acontecer!
by Paulo César, em 13.Out.2009, pelas 20h30
Quero falar-te de amor
com palavras simples,
escorreitas,
lustrosas e puras,
sem trejeitos,
como se falássemos da chuva
que fustiga as vidraças;
ou do vento que sopra
nos ramos desfraldados
das árvores hirtas;
ou do luar manso e cândido
que inunda as noites frias;
ou das águas continuamente limpidas
dos ribeiros silenciosos,
onde as rãs procriam
e coacham sem regras;
ou das viagens que não fizemos,
porque o sonho morreu em si mesmo;
ou da (...)
Desnudo-me das palavras
breves
e incorporo a essência
das sonoras,
pesadas,
longas,
sorvendo a musicalidade
e o timbre
das suas reentrâncias,
como baías azuis
sob o firmamento
pardo.
Toco-lhes,
sorvo-as,
acaricio-as
e como malabarista
de sonhos
desenho a realidade
que sou
na crueza alvar
das folhas planas.
Espelho-me...
Escancaro portas e postigos...
Dou-me sem regatear
e vibro na emoção
de saber-te perto,
quando o abraço prende,
encadeando hipnoticamente,
o nosso olhar!
Pedra sobre pedra
Construção
Ou só rumor
Argamassa que nos prende
Alvoroço
Canto e desencanto
Alegoria
Penedo da saudade
Maresia
E umas asas de voar a medo
Na sincopada cadência
Dos dias inteiros
Com sinais de fogo
No peso das horas.
Maré-cheia de auroras
Viagem sem regresso
Utopias
E um sono lento
Nas noites de vela
Com estrelas cadentes
Penduradas
No firmamento
E murmúrios de solidão
Em deambulações
De poeta.
Papel branco
Apenas
E de alto abaixo
O suor das palavras
Es (...)
Ponho nas palavras
Asas de gavião ou albatroz
E lanço-as, desnudas,
Ao encontro das ruas apinhadas,
Como se fossem plumas.
Por vezes escorrem dos dedos,
Como o suor no corpo em esforço,
E caiem desamparadas
No lajedo das praças,
Aos pés das estátuas.
Momentos há em que recusam
Sair do seu torpor de palavras
E fincam amarras e cadeias
Que só a inspiração dum momento,
Como um clique,
É capaz de rebentar.
Mas, sempre que as palavras
Se soltam e libertas vão
Por aí (...)