Balada para o silêncio todo
Tomo para mim o silêncio todo, aquele que se desprende das palavras que tento dizer e subtraio aos poemas a aguardar outras rimas, outras ressonâncias. Sorvo-o e com ele
alimento o humus sanguineo, no tic-tac compassado
e compassivo da respiração controlada,
enquanto olho o nó górdio da minha inquietação vagarosa.
abandonado e incoerente, no sopé da teimosia, espelhando nas sombras, que me perseguem, a dicotomia dum ser surreal de tão palpável.
Onde vou levo-o (e ainda que o não levasse
ele iria por si mesmo) e com ele estabeleço acordos e disputas, risos e lágrimas nos unem e por vezes unificam, e um sentimento de amor-ódio nos irmana até nos dilacerar. Quando me regozijo, ele acicata-me! Quando me penitencio, ele toma o peso e alivia a pena! Quando me abandono e procuro o degredo e a perdição do regresso às origens, ele abre as janelas e ilumina todo o espaço para que não desista de nada! Quando nada me resta para além de mim mesmo, ele surge do imponderável vazio, assenta arraiais e fica por aí deambulando sem destino a tornar imenso o tempo e reconfortante o espaço! E é em silêncio que o tomo como confidente, falando-lhe, por sinais, o dialecto da comoção e do encantamento!
by Paulo César, em 14.Set.09, pelas 23h00