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No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

No Chão d'Água...

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? (Álvaro de Campos)

30.06.09

Dédalo do tempo


 

Ah se pudesse na porta do tempo por fechadura
Para trancar nele meus sonhos e ir sonhando amiúde
Neste meu apego à Vida, onde solto minha ternura,
Recados da alma me trariam a juventude.
 
(trecho do poema "Recados de Alma", de Natália Nuno)
 
 
Busco e rebusco e não sei se ainda vou
A tempo do tempo, em busca de mim.
E o que busco e rebusco é tanto e tampouco,
Que já nem sei se me busco ou se ando louco
A procurar o improvável sentido, cujo fim
Me possa mostrar um grão do que sou.
E por vezes descreio e outras tantas desisto,
E do nada me chega uma voz e resisto,
E anónimo invisto contra a noite escura…
Ah se pudesse na porta do tempo por fechadura!!!
 
Há no espaço em redor
Uma força que me atrai
E as vozes que gritam são de gente sem nome
E sofrem a sede e os horrores da fome
E a dor e o medo alastra neles e vai
Corroendo a esperança e dissolvendo o fervor.
E as imagens que passam, ante o meu olhar,
São tão cruas e duras que teimo negar
E em seu lugar construo cofres de matéria rude
Para trancar neles meus sonhos e ir sonhando amiúde…
 
Despontam nos campos plantas de cheiro,
Regatos encetam caminhos de enxurrada
E mansos pinheirais em serranias imponentes
Aplacam na viagem as ventanias insolentes
Provindas da força da natureza desbragada,
Cujas leis não dominamos por inteiro.
E no confronto que travo entre ser cultura e chão
Levanta-se um penedo de memória, qual padrão,
Que se faz presente e como dédalo perdura
Neste meu apego à Vida, onde solto minha ternura.
 
E na turbulência de ser tal como sou,
Ora luz, ora treva, ora riso, ora dor,
Está o enigma vital do Homem, ele mesmo,
Volátil na essência do Ser, que lança a esmo,
Como se fora perfume suave de flor
Ou trovão que no espaço o silêncio rasgou.
Anseio por ondas calmas em marés vazas…
Sonho com voos de andorinha sobre as casas…
Foram sonhos… Por eles lancei – só por eles pude! -
Recados da alma, (que) me trariam a juventude…
  
by Paulo César, em 30.Junho.2009, pelas 08h00

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